domingo, 16 de fevereiro de 2025

Vivencias de um Educador Ambiental

 


Durante toda a minha vida, sempre acreditei que um homem precisa e deve contribuir de alguma forma para o bem comum. Considero um grande desperdício vivermos 60, 70, ou até mesmo 100 anos e não deixarmos nenhum rastro de bondade, legado, contribuição, melhoramento de um processo ou pelo menos uma ideia que possa ser útil para os que virão depois de nós.

 

Partindo desse pressuposto, eu, cidadão do setor privado, graduado em História e Administração, com especializações em Gestão Pública Municipal e Gestão Ambiental, fui parar na gestão pública de Piracuruca como assessor ambiental.

 


Antes de relatar minha experiência como educador ambiental, gostaria de enfatizar que, no que diz respeito ao meio ambiente, acredito que a única forma de trilharmos o caminho da sustentabilidade e garantirmos um planeta habitável para as futuras gerações é apostando na educação. Em especial, na educação básica, que molda o   cidadão adulto que um dia iremos nos tornar.

 


Pois bem, vamos ao relato. No ano de 2017, fui convidado pelo então prefeito de Piracuruca, Raimundo Alves Filho, para trabalhar na pasta ambiental do município. Entre as atribuições designadas, estavam a organização e mobilização do Conselho de Meio Ambiente e a assessoria ao secretário da recém-criada Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (SEMMA).

 

Ao assumir o cargo, deparei-me com um município dando os primeiros passos nas preocupações com as causas ambientais. Para se ter uma ideia, até então praticamente inexistiam instrumentos legais no âmbito municipal para nortear ações de cunho ambiental. Não havia uma Política Municipal de Meio Ambiente, Fundo Municipal de Meio Ambiente, Política Municipal de Educação Ambiental, leis de combate à poluição visual, sonora ou atmosférica, e tampouco o município realizava o necessário licenciamento ambiental.

Entendendo que podíamos contribuir, direcionamos essas demandas ao gestor municipal, que, com visão estratégica, compreendeu a importância de estruturar o município com leis capazes de disciplinar as atividades desenvolvidas. Além de gerar arrecadação, essas leis criariam as bases para um crescimento mais sustentável e habilitariam a cidade a pleitear o ICMS Ecológico, uma premiação da Secretaria Estadual de Meio Ambiente para cidades que se destacam em ações ambientais.

 

Como mencionei, sem educação é impossível criar uma cultura ambiental. Assim, passamos a interagir com toda a rede educacional do município, visitando escolas, dialogando e estabelecendo parcerias com diretores, coordenadores, professores e alunos.

Realizamos centenas de horas de palestras, simpósios, semanas temáticas sobre meio ambiente e recursos hídricos, aulas-passeio e reuniões presenciais e remotas com educadores. Acredito que criamos uma relação de confiança que gerou bons frutos e continuará multiplicando-se.

 

Durante esse período, colaboramos na elaboração e execução de diversos projetos:

             Placas do Bem: conscientização por meio de sinalização para coibir o descarte de lixo em vias públicas e terrenos baldios.

             Projeto Rio Vivo: recuperação e preservação do Rio Piracuruca e seus afluentes.

             Piracuruca Mais Verde: arborização urbana, replantio de matas ciliares e distribuição de mudas para moradores plantarem em seus quintais.

             Projeto Manancial: mapeamento das nascentes no município.

             Projeto Brigada Voluntária: criação e formalização da Associação de Brigadistas Voluntários de Piracuruca (ABVP).

             PEVs (Pontos de Entrega Voluntária): implementação de locais para coleta de materiais segregados, projeto que seria o embrião da coleta seletiva no município.

             Projeto Meio Ambiente na Escola: um dos projetos de maior impacto, promovendo a educação ambiental no cotidiano escolar.

Entre 2017 e 2024, todas as leis ambientais inexistentes em 2017 foram encaminhadas e aprovadas pelo legislativo municipal. Destaco a Política de Educação Ambiental, que incluiu um calendário ambiental a ser seguido pelo município.

 

Com essas ações, o município passou a realizar o licenciamento ambiental, gerando recursos financeiros que possibilitaram, por exemplo, a aquisição de um veículo para fiscalização e monitoramento.

Esse conjunto de atividades rendeu frutos significativos: em 2021, Piracuruca foi premiada com o selo B do ICMS Ecológico, em 2022 recebeu o selo A, e manteve a categoria A em 2023. Essas conquistas trazem não apenas reconhecimento, mas também repasses financeiros mensais.


Gostaria de enfatizar que esses avanços foram frutos do trabalho coletivo de prefeitos, secretários, procuradores municipais, educadores e toda a equipe da SEMMA, na qual tive a honra de atuar como assessor e educador ambiental entre 2017 e 2024.

Espero que este relato possa nortear, incentivar ou até mesmo inspirar outros municípios a implementar suas políticas ambientais. Como mencionei no início, precisamos e devemos contribuir de alguma forma — seja plantando uma árvore, limpando uma encosta, formulando uma lei ou simplesmente documentando e compartilhando algo positivo que tenhamos feito para um bem maior.

Raimundo Nonato de Araújo

Administrador e Educador Ambiental


Os Planos Diretores e seus papéis  relevantes para as cidades brasileiras

 

Imagem: gerada por IA


É comum ouvir comentários que as cidades brasileiras estão sofrendo com os efeitos do crescimento desordenado, também é corriqueiro questionamentos sobre a falta de instrumentos regulatórios que proporcione racionalidade aos recursos e coordenada distribuição dos espaços urbanos. Tais imbróglios perpassam por quesitos como: ocupação irresponsável e desordenada do solo, problemas de mobilidade urbana, desgastes e depredação ambiental e patrimonial histórico. O Brasil atual chega a contagem de 5.570 municípios (IBGE) e praticamente todos eles com o mesmo desafio; a necessidade de uma urgente reorganização e reestruturação que possa gerar contornos sustentáveis.

Outro ponto relevante à conjuntura ocupacional do solo brasileiro e que deve ser considerado, é que nas últimas décadas a população brasileira tornou-se essencialmente urbana, tomando como parâmetro os dados coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) até a década de 70 a população residindo nos centros urbanos representavam apenas 43%, hoje mais de 84% das pessoas vivem nestes aglomerados; dados que validamente remetem à necessidade da efetiva regulamentação dos preceitos contidos nos Planos Diretores, principalmente no tocante a aplicação de políticas de zoneamento, ocupação de solo, meio ambiente e preservação do patrimônio histórico. 
Para tratar destes problemas foi instituído através do Estatuto da Cidade o instrumento Plano Diretor. Sobre o tema assevera Sales.
Do ponto de vista da política urbana, o Estatuto da Cidade, Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001, oferece instrumentos para que o município possa intervir nos processos de planejamento e gestão urbana e territorial e garantir de fato a materialização do direito à cidade. É o Estatuto da Cidade que prevê a obrigatoriedade do Plano Diretor em cidades com mais de 20 mil habitantes. O Plano Diretor é definido como instrumento básico para orientar a política de desenvolvimento e de ordenamento da expansão urbana do município (SALES, 2012, p.73).
O Estatuto da Cidade, na lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, no seu capítulo II, artigo V, menciona como planejamento municipal o Plano Diretor, e este por sua vez disciplinaria as leis do parcelamento, uso e ocupação do solo e zoneamento ambiental. Com isso torna-se o instrumento responsável por todo o processo de urbanização a partir de então. “[...] estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental (BRASIL, 2001, art. 1º, parágrafo único)”.
É  fato que tal mecanismo passou a ser obrigatório para cidades com população superior a 20.000 (vinte mil) habitantes priorizando o formato participativo, e como menciona Pinheiro (2010, p. 6) deveria responder as seguintes perguntas: “Que cidade queremos? Como alcançar esta cidade? Onde estarão registrada as regras para se alcançar esta cidade? Quem estabeleceu estas regras? Prazo e sanção para o descumprimento?”
Ainda relacionado à relevância deste instrumento para a gestão pública convém mencionar que, a lei do Estatuto da Cidade veio trazer mais autonomia para os municípios, estes  passariam a dispor de ferramentas e autoridade para usá-las de acordo com as suas realidades. Nesse viés, Pinheiro acrescenta que:
[...] Caberá a cada município, em função da sua realidade, escolher as diretrizes e os instrumentos mais apropriados para solucionar de forma criativa seus problemas. O interessante é que os instrumentos devem ser compatíveis com a realidade local e com os objetivos que se quer alcançar (PINHEIRO 2010, p. 61).
Este documento e sua real aplicação é assunto de debate e consenso entre alguns teóricos, sua aplicabilidade é tida ainda como incerta na maioria das cidades brasileiras, vale complementar que este também é apresentado como decisivo nas atuais conjunturas sociais, configurando-se como programa indicado para sanar graves problemas existentes no país. Como diria (ROLNIK apud PINHEIRO 2010) “o Estatuto da Cidade é uma caixa de ferramentas colocada à disposição dos municípios e o Plano Diretor a chave para abri-la”.
 
Cabe agora o seguinte questionamento, "como se encontra o Plano Diretor de Sua Cidade?

Autor: ARAUJO, Raimundo Nonato, Piracuruca, 2014
Bel. em  Administração de Empresas, Especialista em Gestão Publica e Gestão Ambiental.
 
Referências
BRASIL.
Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constitui%C3%A7ao.htm>.
Acesso em: 25 de junho de 2014
______. Ministério das Cidades. Pesquisa Plano Diretor Participativo: tabelas por UF.
Brasília: [s.n.], 2007. Disponível em: <http:// www.cidades.gov.br/secretarias-nacionais/programas-urbanos/biblioteca/
plano-diretor/publicacoes- institucionais/PesquisaPDPparaOComite 102007.pdf/view?searchterm=pesqui>. Acesso
em: 12 jul. 2014.
______. Lei n. 10.257, de 10 de julho 2001. Regulamenta os arts. 182 e
183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana
e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil/leis/LEIS_2001/L10257.htm>. Acesso em: 20 de junho 2014.
(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA(IBGE). Banco de Dados (Cidades). Disponível em:<http://www.ibge.gov.br/home/>. Acesso em: 23 jan. 2013.
HARDT, L. P. A. Subsídios ao Planejamento de Sistemas de Àreas Verdes, Baseado em Princípios de Ecologia Urbana: Aplicação a Curitiba-PR. Dissertação de Mestrado. UFPR. Curitiba, 1994.
PINHEIRO, Otilie Macedo, Plano diretor e gestão urbana / Otilie Macedo Pinheiro. – Florianópolis : Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília] : CAPES : UAB, 2010
SALLES, Helena da Motta Gestão democrática e participativa / Helena da Motta Salles. – 2. ed. reimp. – Florianópolis:Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília] : CAPES : UAB, 2012.
Expedição científica Arabê / Piracuruca da nascente à foz

 Publicado em  por Nonato Araújo

Esse material, produzido por F Gerson Meneses e Nonato Araújo, foi originalmente veiculado na Revista Ateneu nº 2 de janeiro de 2020. Apresenta para a comunidade, os resultados gerais observados em todos os pontos que foram visitados, da nascente à foz do Rio Piracuruca. É composto por um texto, escrito de forma sequencial (da nascente à foz), que retrata os principais detalhes da empreitada, todo ilustrado com fotografias e vídeos que mostram as experiências vividas. São um conjunto de informações, nos vários meios, que objetivam sensibilizar a comunidade para a preservação e o uso racional desse rio tão importante para nós: O Rio Piracuruca.

O mundo atravessa um período de grande escassez hídrica, o elemento água a cada dia se torna mais raro e caro. É objeto de disputa por muitos e, por incrível que pareça, negligenciada por outros. Atualmente, grande parte da população do planeta já sofre sua falta, e nosso país, que apesar de possuir aproximadamente 12% de toda água doce do mundo, pouco tem sabido lidar com tamanha dádiva. O fato é que, grande parte dos rios brasileiros já se encontram poluídos ou com sérios indícios de poluição e o nosso lençol freático é explorado irracional e criminosamente. Infelizmente, não aprendemos ou não fomos educados para as práticas sustentáveis. Tal panorama sugere as seguintes perguntas:

  • Qual seria o motivo de tanto desperdício?
  • Por que degradamos nossas nascentes e com isso matamos nossos rios?
  • Por que diariamente despejamos produtos químicos, esgotos e resíduos sólidos em nossos mananciais, se neles está atrelada nossa própria sobrevivência?

Não sabemos a resposta, mas existe um velho ditado que diz: “quando conhecemos passamos a amar e quando amamos passamos a cuidar”.

Nesse pressuposto, conheçam o Rio Piracuruca através da “Expedição Científica Arabê – Piracuruca, da Nascente à Foz”. A empreitada, teve início no dia 13 de outubro de 2018, com a missão de gerar informações a respeito do “ecossistema” RIO PIRACURUCA. Buscou-se então, evidenciar curiosidades, particularidades, potenciais e fragilidades, deste que, para o intelectual piracuruquense Anísio Brito (1886-1946), seria a artéria principal do município.


A aventura que se estendeu do “Barata D’água” ao “Peixe que Ronca” (linguagem indígena). Almejou ser mais do que um gerador de conteúdos e informações, buscou-se levantar um debate, um questionar e o despertar para estudos ainda mais aprofundados. Consequentemente, fomentar o implemento de projetos pautados no cuidado, uso racional e preservação deste tão valioso bem.

Por lançar suas águas em mais de um estado, esse que é o principal rio da APA Serra da Ibiapaba é considerado de domínio federal. O rio Piracuruca também era conhecido como Rio Bitorocara ou Rio Bitorocaia, denominação dada pelos povos indígenas.

As Nascentes do Rio Arabê / Piracuruca

O Rio em questão nasce na Serra da Ibiapaba, mais precisamente na cidade de São Benedito-CE, naquela vasta cordilheira esse imponente curso brota com o nome de Arabê, que na linguagem Tupi Guarani significa “barata d’água”. Suas nascentes estão em uma elevação de aproximadamente 885 metros (Google Earth), (atualizando a antiga literatura a respeito, que apontava apenas 650 metros de altitude).


Na cidade de São Benedito, fomos recebidos por uma equipe composta pelos senhores: José Maria, Francisco Rodrigues (Chiquinho da Padaria) e Eliandro Lima. Todos ligados à questões ambientais na cidade.

Após a recepção, passamos a visitar as nascentes e ver a triste situação que se encontrava o Rio Arabê no perímetro urbano da cidade de São Benedito. No geral, o rio encontrava-se bastante degradado, suas nascentes severamente comprometidas, inclusive, em uma destas, no local denominado Espadeiro, constatou-se a mata ciliar totalmente suprimida.


Na localidade Espadeiro, encontramos as nascentes totalmente desprotegidas, inclusive com lixo bem próximo aos minadouros e acesso livre para o gado beber direto nas nascentes.

Esse fato, leva a questionar a pouca presença do Estado e o descumprimento das legislações Ambientais, em especi al o Código Fl ore st al Lei Nº 12.651/ 2012, que no seu Cap. II , Seção I, Art. 4º, Inciso VI, assegura que as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua situação topográfica, deverão ter proteção em um raio no mínimo de 50 (cinquenta) metros.

Outra nascente observada foi a localizada na Fazenda Santa Rosa, nesta, o manancial apresenta melhores condições. Todavia, está incrustada dentro de uma propriedade com criatório bovino.

Nascentes na Fazenda Santa Rosa

Não obstante, o Rio Arabê, no perímetro urbano de São Benedito-CE, encontrava-se em acelerado processo de assoreamento, faixas marginais desmatadas, eutrofização e excessivo uso para atividades agropecuárias, requerendo um urgente projeto de revitalização.

Situação em que encontramos o Rio Arabê, ao cruzar a área urbana de São Benedito.

O Rio Piracuruca, nasce na Serra da Ibiapaba, cidade de São Benedito com o nome de Rio Arabê, em uma elevação de aproximadamente 885 metros. Acompanhe e conheça as nascentes do Rio Piracuruca. Visita em 13 de outubro de 2018.

O Rio avança sobre o território piauiense

Ao descer a Serra da Ibiapaba, o rio adentra ao estado do Piauí pelo município de São João da Fronteira, passando a ser chamado de Rio Piracuruca, vocábulo de origem Tupi, significando peixe roncador.

Rio Arabê, cruzando a Serra da Ibiapaba com destino ao Piauí. Foto de Ricardo Paiva (imagens aéreas).

O Rio Piracuruca percorre ainda os municípios de Domingos Mourão, Brasileira, Piracuruca e São José do Divino. É interessante mencionar que no serpentear deste majestoso rio, orbita todo um ecossistema. O Cerrado e a Caatinga ganham vida, sendo o responsável pelo surgimento de uma fauna e flora de imensurável beleza.


Rio Arabê / Piracuruca, passando pela localidade Santa Rosa, no município de São João da Fronteira – Piauí.

Após a constatação do estado emergencial das suas principais nascentes em São Benedito, a expedição destaca o perímetro incluso no município de Brasileira, mas precisamente, na localidade Saco dos Polidórios. Nesse trecho, para a alegria dos expedicionários, identificou-se uma significante preservação de mata ciliar. No entanto, constatou-se, através de relatos de ribeirinhos, a prática nociva da retirada de areia do leito do rio, possivelmente sem nenhuma regulamentação, o que traz preocupações em relação aos impactos que podem acarretar, inclusive, a alteração do curso e da calha original deste.

Na passagem pelo Povoado Saco dos Polidoros em Brasileira – Piauí, constatamos a mata ciliar, assim como todo o ecosistema bastante preservados.


Ponte sobre o Rio Piracuruca, na BR 222.

No Povoado Saco dos Polidórios, município de Brasileira-PI o Rio Piracuruca também é conhecido como Rio Arabê. Visita em 6 de julho de 2019.

O Grande lago da Barragem Piracuruca

Paisagem rural, às margens do Rio Piracuruca no povoado Piçarra, Brasileira – Piauí. Aqui o grande lago já começa a se formar.

Ao sair do município de Brasileira, a expedição se embrenha no imenso lago artificial, a montante da cidade de Piracuruca. O grande reservatório é atualmente o terceiro maior do Piauí, com capacidade de armazenamento de 250.000.000 m e área da 3 bacia hidráulica de 4.159 ha.


Espelho d’água represada no grande Lago da Barragem Piracuruca.


Chegada ao paredão da Barragem Piracuruca.


Do sangradouro da barragem ao início do perímetro urbano do município de Piracuruca, o rio percorre cerca de 5,5 km.

Logo na parede do sangradouro, identificamos um possível problema: a queda d’água muito íngreme dificulta a subida de peixes no período da piracema, impactando no ciclo reprodutivo de inúmeras espécies.


Da forma como está o sangradouro, ocorre um impedimento da subida dos peixes durante a reprodução, interferindo drasticamente na piracema.


Sangradouro da Barragem Piracuruca.

Neste espaço foram observadas as seguintes particularidades: margens já bastante povoadas, pequenas atividades agrícolas e pecuárias, com ênfase para a criação de peixes em tanques rede.


Tanques rede usados na criação de peixes.

Nessa vastidão hídrica, foi identificado também a formação de um grande número de pequenas ilhas, uma rica fauna, com variedades de aves.


Alguns elementos da rica fauna existente na Barragem Piracuruca.
Fotos: F Gerson Meneses


Exemplos da variedades de pássaros do ecossistema Rio Piracuruca.
Fotos: F Gerson Meneses

Um fato triste e recorrente na Barragem Piracuruca, é o descarte incorreto do lixo, o que pode ocasionar em um futuro breve, um sério problema para a cidade. Também há de se destacar o desmatamento na margem da represa.

Descarte incorreto do lixo e desmatamento na margem da represa.

Após a grande barragem, o Rio Piracuruca segue para a área urbana da cidade de Piracuruca. Ao fundo, destaque para a comporta da barragem.

Remada em 13 de julho de 2019 na Barragem Piracuruca, até uma ilha a 11 km do paredão da barragem.

Passagem pelo perímetro urbano da cidade de Piracuruca

Seguindo à jusante encontra-se o ponto de captação para abastecimento do município e uma pequena barragem chamada Poço da Vara. Nesse trecho, que apresenta largura variável entre 30 a 50 metros, é visível a existência de clareiras na mata ciliar, refletindo a intervenção antrópica desrespeitosa às regras e regulamentações impostas às Áreas de Proteção Permanente (APP). O Código Florestal Brasileiro no seu Cap. II, Seção I, quando trata da delimitação das APP’s, é claro no seu Art. 4º, Inciso I, Alínea b, “as margens preservadas devem ser de 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura”.

A pequena barragem do Poço da Vara, era um balneário muito frequentado nos anos 1980 a 1990.

Em seguida, inicia-se o trecho urbano, certamente o que requer uma maior atenção ambiental. É conveniente mencionar que o perímetro em questão tem sofrido com o modelo explorador imposto pelo crescimento populacional, fato esse, infelizmente comum à grande maioria dos cursos de água existentes no Brasil.

Recolhimento de material plástico próximo à Ponte de Ferro.

O nosso rio, atualmente enfrenta problemas de ordens que vão desde: quantidade significativa de lixo depositada em suas encostas; vegetação ribeirinha alterada em alguns trechos; processos produtivos que necessitam ser revistos, em especial, a piscicultura e agricultura; diminuição da população de peixes e a ameaça de eutrofização, ocasionada pelo volume de material orgânico já depositado no seu leito.

Rede de pesca em período impróprio.

O sinal que vem dos aguapés.

Nesse percurso citadino também nos deparamos com a majestosa Ponte de Ferro, construída na primeira metade do século XX; a Ponte do Guarani; o Complexo Turístico Prainha e a Ponte do Urubu. Na despedida do perímetro urbano, no local denominado Pedra Preta, o Piracuruca segue caminho para mais uma cidade, agora, São José do Divino.


A quase centenária Ponte de Ferro.


Ponte que liga o centro ao Bairro Guarani.

Barragem Central e Complexo Turístico Prainha.

Barragem da Pedra Preta.

Remada realizada no dia 31 de dezembro de 2018 no Rio Piracuruca, entre a barragem central e a barragem do poço da vara.

Com destino à Foz


Cânion após a Pedra Preta.

Os dois lados da passagem molhada, próximo ao São João do Adelino.

No município de São José do Divino o rio Piracuruca, apesar de todos os percalços, agruras e desventuras sofridas, ainda respira o ar da vitalidade e nesse corredor, grande parte da mata ciliar ainda se apresenta robusta e a fauna, principalmente a aquática, sinaliza sobrevivência. Esse é o último município banhado pelo “Peixe que Ronca” antes de chegar à sua foz, no Rio Longá.

Ponte sobre o Rio Piracuruca, município de São José do Divino – Piauí.

Passagem molhada, a caminho da Foz do Rio Piracuruca.

Precisamente no povoado Barra do Piracuruca, constatamos in loco, esse mais do que simbólico lugar, o marco que define onde termina esse rio tão importante, que depois de abastecer 6 cidades, beneficiar mais de 100.000 pessoas, percorrer cerca de 200 km, em um declive de aproximadamente 850 metros, segue o seu caminho natural para o Oceano Atlântico, como um dos principais subafluentes do Rio Parnaíba.


Foz do Rio Piracuruca na Barra do Piracuruca em São José do Divino-PI.

Visita em 20 de junho de 2019 à localidade Barra do Piracuruca, no Município de São José do Divino para conhecer a foz do Rio Piracuruca.

Alguns dos grandes e pequenos afluentes do Rio Piracuruca

O Rio Piracuruca tem cerca de 45 afluentes, com destaques para os rios: Jenipapo, Catarina e Jacareí.


Rio Jenipapo, povoado Alto Alegre, município de São João da Fronteira – Piauí.


Rio Jacareí, na passagem pela BR 343.

Riacho Provesor, área urbada de Piracuruca.

A aventura continua, novos desafios:


“Por onde passa, o nosso rio deixa vida e pede a atenção de todos para a preservação da sua biodiversidade.”

Com destino a novos desafios nas águas do Rio Piracuruca.

Essa expedição que percorreu toda a extensão do Rio Piracuruca, da nascente à foz, foi apenas o começo de uma grande empreitada em defesa do nosso Rio. A partir de agora, temas pontuais serão trabalhados, de acordo com suas especificidades, a seguir uma lista com alguns dos assuntos que serão abordados:

  • Diagnóstico atual e contínuo das nascentes do Rio Piracuruca;
  • O projeto de irrigação do São José do Divino, agregado à construção da Barragem Piracuruca;
  • A extração de areia do leito do Rio Piracuruca e as suas consequências;
  • Elementos da biodiversidade existente no ecossistema Rio Piracuruca;
  • A grandiosa foz do Riacho Cabra Bom, um importante afluente do Rio Piracuruca;
  • Uma análise sobre os criatórios de peixe na Barragem Piracuruca;
  • O fluxo da piracema é prejudicado na transposição da Barragem Piracuruca;
  • A estação de tratamento de esgotos de Piracuruca e a sua funcionalidade;
  • O perigoso descarte incorreto do lixo produzido na margem da Barragem Piracuruca.


Nonato Araújo


F Gerson Meneses

Matéria publicada anteriormente no site: https://portalpiracuruca.com