domingo, 16 de fevereiro de 2025

Vivencias de um Educador Ambiental

 


Durante toda a minha vida, sempre acreditei que um homem precisa e deve contribuir de alguma forma para o bem comum. Considero um grande desperdício vivermos 60, 70, ou até mesmo 100 anos e não deixarmos nenhum rastro de bondade, legado, contribuição, melhoramento de um processo ou pelo menos uma ideia que possa ser útil para os que virão depois de nós.

 

Partindo desse pressuposto, eu, cidadão do setor privado, graduado em História e Administração, com especializações em Gestão Pública Municipal e Gestão Ambiental, fui parar na gestão pública de Piracuruca como assessor ambiental.

 


Antes de relatar minha experiência como educador ambiental, gostaria de enfatizar que, no que diz respeito ao meio ambiente, acredito que a única forma de trilharmos o caminho da sustentabilidade e garantirmos um planeta habitável para as futuras gerações é apostando na educação. Em especial, na educação básica, que molda o   cidadão adulto que um dia iremos nos tornar.

 


Pois bem, vamos ao relato. No ano de 2017, fui convidado pelo então prefeito de Piracuruca, Raimundo Alves Filho, para trabalhar na pasta ambiental do município. Entre as atribuições designadas, estavam a organização e mobilização do Conselho de Meio Ambiente e a assessoria ao secretário da recém-criada Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (SEMMA).

 

Ao assumir o cargo, deparei-me com um município dando os primeiros passos nas preocupações com as causas ambientais. Para se ter uma ideia, até então praticamente inexistiam instrumentos legais no âmbito municipal para nortear ações de cunho ambiental. Não havia uma Política Municipal de Meio Ambiente, Fundo Municipal de Meio Ambiente, Política Municipal de Educação Ambiental, leis de combate à poluição visual, sonora ou atmosférica, e tampouco o município realizava o necessário licenciamento ambiental.

Entendendo que podíamos contribuir, direcionamos essas demandas ao gestor municipal, que, com visão estratégica, compreendeu a importância de estruturar o município com leis capazes de disciplinar as atividades desenvolvidas. Além de gerar arrecadação, essas leis criariam as bases para um crescimento mais sustentável e habilitariam a cidade a pleitear o ICMS Ecológico, uma premiação da Secretaria Estadual de Meio Ambiente para cidades que se destacam em ações ambientais.

 

Como mencionei, sem educação é impossível criar uma cultura ambiental. Assim, passamos a interagir com toda a rede educacional do município, visitando escolas, dialogando e estabelecendo parcerias com diretores, coordenadores, professores e alunos.

Realizamos centenas de horas de palestras, simpósios, semanas temáticas sobre meio ambiente e recursos hídricos, aulas-passeio e reuniões presenciais e remotas com educadores. Acredito que criamos uma relação de confiança que gerou bons frutos e continuará multiplicando-se.

 

Durante esse período, colaboramos na elaboração e execução de diversos projetos:

             Placas do Bem: conscientização por meio de sinalização para coibir o descarte de lixo em vias públicas e terrenos baldios.

             Projeto Rio Vivo: recuperação e preservação do Rio Piracuruca e seus afluentes.

             Piracuruca Mais Verde: arborização urbana, replantio de matas ciliares e distribuição de mudas para moradores plantarem em seus quintais.

             Projeto Manancial: mapeamento das nascentes no município.

             Projeto Brigada Voluntária: criação e formalização da Associação de Brigadistas Voluntários de Piracuruca (ABVP).

             PEVs (Pontos de Entrega Voluntária): implementação de locais para coleta de materiais segregados, projeto que seria o embrião da coleta seletiva no município.

             Projeto Meio Ambiente na Escola: um dos projetos de maior impacto, promovendo a educação ambiental no cotidiano escolar.

Entre 2017 e 2024, todas as leis ambientais inexistentes em 2017 foram encaminhadas e aprovadas pelo legislativo municipal. Destaco a Política de Educação Ambiental, que incluiu um calendário ambiental a ser seguido pelo município.

 

Com essas ações, o município passou a realizar o licenciamento ambiental, gerando recursos financeiros que possibilitaram, por exemplo, a aquisição de um veículo para fiscalização e monitoramento.

Esse conjunto de atividades rendeu frutos significativos: em 2021, Piracuruca foi premiada com o selo B do ICMS Ecológico, em 2022 recebeu o selo A, e manteve a categoria A em 2023. Essas conquistas trazem não apenas reconhecimento, mas também repasses financeiros mensais.


Gostaria de enfatizar que esses avanços foram frutos do trabalho coletivo de prefeitos, secretários, procuradores municipais, educadores e toda a equipe da SEMMA, na qual tive a honra de atuar como assessor e educador ambiental entre 2017 e 2024.

Espero que este relato possa nortear, incentivar ou até mesmo inspirar outros municípios a implementar suas políticas ambientais. Como mencionei no início, precisamos e devemos contribuir de alguma forma — seja plantando uma árvore, limpando uma encosta, formulando uma lei ou simplesmente documentando e compartilhando algo positivo que tenhamos feito para um bem maior.

Raimundo Nonato de Araújo

Administrador e Educador Ambiental


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